Lílian Machado
Tribuna da Bahia
Publicada: 15/03/2010 00:38
Do cenário das salas de aula de escolas públicas para o mundo das câmeras digitais dos celulares. Tudo isso unindo as filosofias de Glauber Rocha e Paulo Freire, como um novo método de educação.
Com o ideal glauberiano de filmes rápidos ("Uma idéia na cabeça, uma câmera na mão”) e o método dialógico de Paulo Freire, o jornalista e mestre em educação, Marcílio Rocha Ramos, construiu o projeto Cinemação, que está sendo desenvolvido em escolas estaduais da Bahia.
O projeto mostra estudantes desenvolvendo filmes a partir de máquinas filmadoras de celulares e põe a garotada diante do conceito de “aprender vivenciando”.
Videoproduções | A autoria dos filmes é coletiva e começa com discussões livres sobre temáticas dos contextos dos educandos, que depois são explorados no roteiro e assim seguem para ser filmados. Tudo parte de imagens simples que mostram cotidianos, sonhos e questionamentos dos jovens.
Neles observamos episódios diversificados sobre as realidades dos jovens e adolescentes como no curta “Pulando o muro para estudar”, no qual os alunos registram situações como a de serem barrados pelo porteiro da escola por conta do atraso e em seguida decidirem pular o muro do colégio para assistir aula.
Nas produções os estudantes acabam denunciando também atitudes que colaboram para o fracasso do ensino atual ao mesmo tempo em que se mostram mobilizados e interessados em outras formas de aprendizagens.
O projeto nasceu de pesquisas do autor em educomunicação (2003-2005) no Mestrado de Educação da Universidade Federal da Bahia/Rede Pect, então coordenado pela educadora Terezinha Froes e atualmente pelo professor Eduardo Oliveira.
Glauber e Freire
Ao assumir a coordenação de Educomunicação da Secretaria da Educação da Bahia, ele ofereceu suas pesquisas para desenvolvimento do projeto na rede pública do Estado da Bahia e com uma equipe da SEC foi para dentro das escolas realizá-lo junto com educadores e educandos.
Nas produções são usadas técnicas ligadas a dois ícones do cinema e da educação brasileiros: o cineasta baiano Glauber Rocha e o educador Paulo Freire. Sob a influência da linguagem de Glauber Rocha é desenvolvida uma estética de criação focada em produções sem a preciosidade tecnicista.
Ramos afirma que Glauber Rocha “com o intuito de resumir uma proposta metodológica de produção de cinema, cunhou a frase ‘uma câmera na mão e uma idéia na cabeça’. Seu ideal era desacorrentar a produção brasileira dos formalismos e excessos técnicos dos filmes estrangeiros, sobretudo dos Estados Unidos”
Já com Paulo Freire o autor esclarece que o método representa a aprendizagem pelo compartilhamento, discussão em grupo, realidade imediata dos sujeitos, relação horizontal, fraterna, compreensiva. “Esta prática é chamada de dialogia e nós o fazemos em discussões problematizadoras,” afirma.
DVD - Das produções realizadas na rede pública da Bahia, Ramos afirma que onze produtos (curtas metragens e pequenas reportagens audiovisuais) foram impressos em 4000 DVDs como mídia-educação pela Secretaria da Educação Básica no final de 2009.
O projeto ganhou reconhecimento no final do ano passado, sendo escolhido como o melhor projeto de mídia-educação – entre centenas de outros projetos – na Convocatória Nacional de Arte Educação, Cultura e Cidadania no Congresso Latinoamericano e Caribenho de Arte, realizado na Universidade Federal de Minas Gerais.
No México
O Cinemação foi indicado pelo MEC para representar o Brasil na categoria mídia-educação, em um evento no México, em outubro deste ano.
Repercussão do Cinemação com os estudantes
Estudantes que participaram do projeto Cinemação relatam que a experiência foi positiva para os estudos e a vida pessoal. “Foi um aprendizado novo para mim, pois a gente só aprendia através do decoreba. E até edição eu aprendi a fazer”, conta Flávio Negreiros, 20 anos, ex-aluno da Escola Estadual Frederico Costa, que terminou o ensino médio ano passado.
Segundo ele, trabalhar com esse tipo de projeto elevou a crença na sua própria capacidade. Muitos garotos relataram que o projeto serviu para desenvolver a auto-estima, a ser e se sentir inteligente.
O projeto ganhou elogios do curador da UNE, mestre em educação e produtor cinematográfico, Marcelo Matos de Oliveira. Ele conta que depois de passar quase oito horas vendo diversos filmes para a Mostra de Cinema e Vídeo da Bienal da Une, sem nenhuma grande surpresa, já estavam começando a ficar preocupados quando se deparou com as produções do Cinemação.
“Pouquíssimos filmes nos tinha agradado. E foi lá pelas tantas que colocamos o DVD dos meninos. Finalmente tínhamos encontrado um filme que não deixava dúvida da qualidade, não da imagem, mas da linguagem cinematográfica que é o mais importante. E olhe que eles estavam concorrendo com escolas superiores de cinema, filmes feitos com câmera de alta qualidade, iluminação. E os meninos deram um banho de criatividade e expressividade”, exaltou.
Importância das mídias
Segundo o jornalista Marcílio Rocha Ramos, construir conteúdos digitais com o celular já faz parte do cotidiano dos jovens e adolescentes de hoje. “O celular é ao mesmo tempo, receptor e emissor de mensagens, ou seja, além de um aparelho de comunicação, é também um meio com o qual se pode compartilhar informação e vivências”, afirma.
Ramos destaca que “mais que um método, a Educomunicação significa aprender fazendo, compartilhando. Significa que a teoria faz parte da prática e que esta ocorre dentro de uma série de movimentos, saberes e compartilhamento, sempre problematizando a realidade”.
Novas mídias
Ele lamenta que os aparelhos de comunicação da juventude atual, como celular, mp3, mp4, sites de relacionamento como Orkut, Youtube, twiter, ou seja, as chamadas micro-mídias ainda são considerados elementos de dispersão “pontos de fuga” do ensino tradicional.
“Infelizmente a utilização destes meios de comunicação chega a ser proibida pelos professores e as direções das escolas, sem que esses se apercebam de que os adolescentes têm esses instrumentos como extensão de seus próprios corpos”, ressalta.
Ele critica o ensino convencional – que apenas reproduz conhecimentos antigos e desconsidera a amplitude desses novos canais. “O Cinemação visa desenvolver o que se chama de ‘inclusão digital’ porém com autoria, ações colaborativas e confluência de uma diversidade de linguagens, como a música, o teatro, o texto, a fotografia e a informática”.
Nova educação
Sob a ótica educomunicativa, Rocha defende uma educação da “problematização, da ação, da revolução”, ressaltando que não acredita nesta educação voltada para habilidades e competências, conteúdos e provas. “Acredito numa educação voltada para intervenção social, questionamento da realidade, problematização do capitalismo, do meio ambiente, da superação da barbárie imposta pelo capitalismo. Esta educação que fala de tudo e não questiona nada não serve para nada. Serve só para manter o status quo”, dispara.
sábado, 10 de abril de 2010
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